A pesquisa tem como fonte o inventário que se
encontra no arquivo geral do judiciário de Aracaju, na caixa nº 15, nº geral
1697, período 1906 – 1907, módulo III, sobre os bens deixados por Manoel Alves
de Oliveira, que fora morador da cidade de Rosário do Catete, falecido no dia dezesseis
de junho de 1908 na mesma cidade.
O inventário com a descrição e a avaliação dos
bens de Manoel Alves foi escrito no dia 18 de agosto pelo escrivão Antonio
Vallido de Jesus Dantas a mando do Juiz Municipal e de órfãos Honório Chaves, o
qual intimou a viúva Clara Maria do Bomfim a descrever os bens já que o
falecido marido não havia deixado testamento. Manoel Alves também deixara três
filhos, Leobino Alves de Oliveira de 26 anos de idade, Philomena Alves de
Oliveira de 20 anos e o menor Augusto Alves de Oliveira de 14 anos que foi
acompanhado durante a avaliação dos bens pelo curador de órfãos Manoel José da
Silva Porto.
O Juiz de órfãos era a autoridade designada para
questões relativas à partilha de herança, inventários e pedidos de emancipação,
como também sobre a tutela dos menores; quanto aos menores mesmo que vivessem
com a mãe era quase sempre nomeado um curador porque esta na maioria das vezes
era impedida de assumir a responsabilidade jurídica sobre os filhos.
Clara Maria do Bomfim descreveu os seguintes bens: um sítio de terras nas
cercanias da Vila do Rosário, com oito tarefas de terra demarcados com uma casa
para fabricar farinha, que o juiz avaliou em 500 mil réis; e uma casa na Vila
com duas janelas e uma porta em terreno próprio, com o valor avaliado em 200
mil réis. O Juiz determinou que 50 mil réis quando da partilha fossem
destinados para as custas do processo, 325 mil réis fossem para a inventariante,
a viúva Clara Maria do Bomfim, e 108 mil réis ficassem para cada um dos filhos.
Dessas informações pode-se inferir que Manoel
Alves de Oliveira morreu com aproximadamente 50 anos, ou seja viveu a maior
parte da sua vida no século XIX, e tinha como meio de subsistência a produção
de farinha, e outros produtos que poderia obter do seu sítio com oito tarefas o
que possibilitou a ele não apenas ter este sítio nas cercanias da Vila do Rosário
como também uma casa na própria Villa.
A história de Rosário do Catete está ligada a de Santo Amaro das Brotas,
o povoado do Rosário nasceu em uma área dominada política e administrativamente
por Santo Amaro que tinha grande influência em Sergipe no final do século XVIII
e início do XIX devido à proximidade com o Porto das Redes que era utilizado
para escoar a produção açucareira do vale da Cotinguiba, o mesmo acontecia com
Maruim que também era domínio de Santo Amaro. O povoado do Rosário se tornara
independente no ano de 1836 com a Lei de 12 de março do mesmo, sancionada pelo
presidente de Sergipe DR. Bento de Melo Teixeira, e foi denominada Vila de
Nossa Senhora do Rosário do Catete.
Manuel Alves nasceu provavelmente na década de
50 do século XIX, no censo de autoria da Delegacia da Vila do Rosário de 28 de
março de 1848 a população livre da Vila contava com cerca de 6.000 habitantes
com 3.100 homens e 2.900 mulheres, é de se pensar que a população da cidade
quando da morte do personagem em 1908 não tenha sofrido grandes alterações, a
população atual da cidade de Rosário do Catete, ano de 2013, não passa de
10.000 habitantes.
O rio Sergipe era muito importante para a
economia da região do Cotinguiba, o já mencionado Porto das redes ficava nesse
rio nas proximidades de Santo Amaro e Maruim, e foi muito importante para o
desenvolvimento dessas cidades que ficavam no vale, além dessas duas citadas, ficavam
próximas também Laranjeiras e a própria Rosário; o transporte das mercadorias
era feito rio acima sendo escoadas em direção ao oceano e também às importações
chegavam pelo rio, muito por isso se deveu a mudança da capital para Aracaju, já
que as embarcações de grande porte não podiam adentrar tanto o rio fazendo com
que o transporte de mercadorias fosse dificultoso, era feito por pequenas
barcas que traziam as mercadorias para os barcos de maior porte.
Dentro desse panorama a cana de açúcar era a principal fonte de riqueza
da região, em Rosário existiam em 1850 ao todo 60 engenhos, era disparada a
base econômica da Vila, destacando-se o Serra Negra do Dr. Leandro Siqueira
Maciel. Em todo o Sergipe poderia se contar 726 engenhos com grande destaque
para o vale do Cotinguiba, mais da metade do total de engenhos em Sergipe
ficava em tal região, é importante lembrar que o solo era o massapê o mais propício
para a lavoura da cana.
A partir desse contexto
é fácil deduzir que praticamente toda a economia girava em torno dos engenhos,
e que foram eles o fator do povoamento da região, com tal produção de açúcar
era preciso que houvesse uma pequena produção de alimentos para a subsistência
da população, sejam eles escravos e senhores, antes da abolição da escravatura,
e mesmo depois já que a preponderância nessa região da produção açucareira
perdurou, mesmo com a implantação de usinas no final do século XIX e
principalmente a partir do século XX, dessa forma posso imaginar que Manuel
Alves tinha uma pequena produção e também comercializava alimentos, ao menos a
farinha, logo que em sua propriedade fora descrita uma casa para fabrico da
mesma.
Referências:
- Porto, Fernando. A cidade do Aracaju 1855/1865, Aracaju/SE.
- Silva, Maria Lúcia Marques Cruz e, 1950. Rosário do Catete / Maria Lúcia Marques Cruz e Silva – Aracaju: Prefeitura de Rosário do Catete, 2000.
- http://www.historica.arquivoestado.sp.gov.br/materias/anteriores/edicao27/materia01 Acesso em 08/08/2013.
- http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/dtbs/sergipe/rosariodocatete.pdf Acesso em 08/08/2013.