terça-feira, 20 de agosto de 2013

RELATÓRIO PARCIAL DE COLETA DE DADOS


      A pesquisa tem como fonte o inventário que se encontra no arquivo geral do judiciário de Aracaju, na caixa nº 15, nº geral 1697, período 1906 – 1907, módulo III, sobre os bens deixados por Manoel Alves de Oliveira, que fora morador da cidade de Rosário do Catete, falecido no dia dezesseis de junho de 1908 na mesma cidade.
        O inventário com a descrição e a avaliação dos bens de Manoel Alves foi escrito no dia 18 de agosto pelo escrivão Antonio Vallido de Jesus Dantas a mando do Juiz Municipal e de órfãos Honório Chaves, o qual intimou a viúva Clara Maria do Bomfim a descrever os bens já que o falecido marido não havia deixado testamento. Manoel Alves também deixara três filhos, Leobino Alves de Oliveira de 26 anos de idade, Philomena Alves de Oliveira de 20 anos e o menor Augusto Alves de Oliveira de 14 anos que foi acompanhado durante a avaliação dos bens pelo curador de órfãos Manoel José da Silva Porto.
     O Juiz de órfãos era a autoridade designada para questões relativas à partilha de herança, inventários e pedidos de emancipação, como também sobre a tutela dos menores; quanto aos menores mesmo que vivessem com a mãe era quase sempre nomeado um curador porque esta na maioria das vezes era impedida de assumir a responsabilidade jurídica sobre os filhos.
        Clara Maria do Bomfim descreveu os seguintes bens: um sítio de terras nas cercanias da Vila do Rosário, com oito tarefas de terra demarcados com uma casa para fabricar farinha, que o juiz avaliou em 500 mil réis; e uma casa na Vila com duas janelas e uma porta em terreno próprio, com o valor avaliado em 200 mil réis. O Juiz determinou que 50 mil réis quando da partilha fossem destinados para as custas do processo, 325 mil réis fossem para a inventariante, a viúva Clara Maria do Bomfim, e 108 mil réis ficassem para cada um dos filhos.
       Dessas informações pode-se inferir que Manoel Alves de Oliveira morreu com aproximadamente 50 anos, ou seja viveu a maior parte da sua vida no século XIX, e tinha como meio de subsistência a produção de farinha, e outros produtos que poderia obter do seu sítio com oito tarefas o que possibilitou a ele não apenas ter este sítio nas cercanias da Vila do Rosário como também uma casa na própria Villa.
      A história de Rosário do Catete está ligada a de Santo Amaro das Brotas, o povoado do Rosário nasceu em uma área dominada política e administrativamente por Santo Amaro que tinha grande influência em Sergipe no final do século XVIII e início do XIX devido à proximidade com o Porto das Redes que era utilizado para escoar a produção açucareira do vale da Cotinguiba, o mesmo acontecia com Maruim que também era domínio de Santo Amaro. O povoado do Rosário se tornara independente no ano de 1836 com a Lei de 12 de março do mesmo, sancionada pelo presidente de Sergipe DR. Bento de Melo Teixeira, e foi denominada Vila de Nossa Senhora do Rosário do Catete.
    Manuel Alves nasceu provavelmente na década de 50 do século XIX, no censo de autoria da Delegacia da Vila do Rosário de 28 de março de 1848 a população livre da Vila contava com cerca de 6.000 habitantes com 3.100 homens e 2.900 mulheres, é de se pensar que a população da cidade quando da morte do personagem em 1908 não tenha sofrido grandes alterações, a população atual da cidade de Rosário do Catete, ano de 2013, não passa de 10.000 habitantes.
     O rio Sergipe era muito importante para a economia da região do Cotinguiba, o já mencionado Porto das redes ficava nesse rio nas proximidades de Santo Amaro e Maruim, e foi muito importante para o desenvolvimento dessas cidades que ficavam no vale, além dessas duas citadas, ficavam próximas também Laranjeiras e a própria Rosário; o transporte das mercadorias era feito rio acima sendo escoadas em direção ao oceano e também às importações chegavam pelo rio, muito por isso se deveu a mudança da capital para Aracaju, já que as embarcações de grande porte não podiam adentrar tanto o rio fazendo com que o transporte de mercadorias fosse dificultoso, era feito por pequenas barcas que traziam as mercadorias para os barcos de maior porte. 
     Dentro desse panorama a cana de açúcar era a principal fonte de riqueza da região, em Rosário existiam em 1850 ao todo 60 engenhos, era disparada a base econômica da Vila, destacando-se o Serra Negra do Dr. Leandro Siqueira Maciel. Em todo o Sergipe poderia se contar 726 engenhos com grande destaque para o vale do Cotinguiba, mais da metade do total de engenhos em Sergipe ficava em tal região, é importante lembrar que o solo era o massapê o mais propício para a lavoura da cana.
    A partir desse contexto é fácil deduzir que praticamente toda a economia girava em torno dos engenhos, e que foram eles o fator do povoamento da região, com tal produção de açúcar era preciso que houvesse uma pequena produção de alimentos para a subsistência da população, sejam eles escravos e senhores, antes da abolição da escravatura, e mesmo depois já que a preponderância nessa região da produção açucareira perdurou, mesmo com a implantação de usinas no final do século XIX e principalmente a partir do século XX, dessa forma posso imaginar que Manuel Alves tinha uma pequena produção e também comercializava alimentos, ao menos a farinha, logo que em sua propriedade fora descrita uma casa para fabrico da mesma.




Referências:
  • Porto, Fernando. A cidade do Aracaju 1855/1865, Aracaju/SE.
  • Silva, Maria Lúcia Marques Cruz e, 1950. Rosário do Catete / Maria Lúcia Marques Cruz e Silva – Aracaju: Prefeitura de Rosário do Catete, 2000.
  • http://www.historica.arquivoestado.sp.gov.br/materias/anteriores/edicao27/materia01  Acesso em 08/08/2013.
  • http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/dtbs/sergipe/rosariodocatete.pdf Acesso em 08/08/2013.