sábado, 28 de maio de 2011

Resenha do livro Enforcados: O índio em Sergipe

Em 1557 Garcia d'Ávila já se encontra na terra sergipana, mas isso não significa que ela viva, exclusivamente da pecuária. Os "currais de gado" só vão se desenvolver no final do século XVII. A agricultura, assim precede a pecuária. Os índios, que garantem a exploração do "pau-brasil" e a agricultura recém-nascida, são também o sustentáculo inicial da cana-de-açucar. Eles, animais de carga e a serviço dos jesuítas - depõe Gabriel Soares de Souza - "trabalham-lhes nas suas obras em todos os ofícios, trabalham-se nas suas olarias, trabalham-se com os carros, e nas roças, no que não querem que se aproveite a outra gente".

O parágrafo acima citado foi extraído do livro Enforcados: O índio em Sergipe de Ariosvaldo Figueiredo. Um escritor com variada formação acadêmica, advogado, jornalista, engenheiro agrônomo, foi professor titular da Universidade Federal de Sergipe e imortal da Academia Sergipana de Letras, trabalhou como jornalista na Gazeta de Sergipe, e escreveu mais de vinte livros, autor de Enforcados(1981), História Política de Sergipe(1986), entre outros.

No livro o autor recorre a vários documentos históricos como textos jornalísticos, o título é um caso a parte, o autor faz uma crítica a tentativa do professor Severiano Cardoso para transformar, em textos publicados pelo Jornal "Estado de Sergipe", de 13 a 31 de março de 1904, um episódio de enforcamento dos nativos que viviam no lugar que hoje é conhecido como Nossa Senhora das Dores, em lenda.

O livro também dialoga com diversos outros autores e cronistas de época como Gabriel Soares de Souza e Jean de Léry, também com historiadores e cientistas sociais, Manuel Bonfim, Felte Bezerra e outros, sempre tentando desmistificar a visão do indígena que se fazia através da visão do colonizador. Buscando o caminho da alteridade, olhar a história do Brasil e de Sergipe como um empreendimento econômico e de dominação dos nativos, e não como um processo civilizatório, esclarecendo assim todo um passado de violência simbólica e física por que passaram os índios no país.

O autor dividiu o livro em nove capítulos, começando com uma analise da colonização em âmbito nacional, para depois chegar ao movimento colonizador de Sergipe, lembrando todo o processo que levou a total aculturação e aprisionamento do índio, o genocídio e o etnocídio, através das missões jesuítas e depois a expulsão e escravização com a busca de terras pelos colonizadores. Um processo que não acabou mesmo com a indepência do país, mostrando o quanto no Brasil o estado representa não os direitos da população em geral, mas sim de uma pequena minoria de proprietários, que tomaram o papel do colonizador com a indepêndencia e buscaram não só a tomada das terras, mas também o apagamento da história e cultura dos povos indígenas.

Um dos aspectos centrais do livro diz respeito as motivações dos colonizadores para a conquista do território do estado de Sergipe e em outro momento histórico dos proprietários de terras, ajudados pelo estado com a promulgação de leis que os favoreciam, no apagamento da cultura nativa.

É comentado no livro as diversas motivações já conhecidas através de trabalhos de outros historiadores, como a expulsão dos franceses do território brasileiro, franceses que se aliavam aos nativos, também comenta sobre Sergipe ser uma via que ligaria os estados mais importantes do Brasil colonial, Bahia e Pernambuco, mas Ariosvaldo enfoca principalmente a questão econômica, a busca por terras que perdura até hoje no país.

O autor ressalta a questão da terra, empreendimento que levou a justificação da ação militar contra os indígenas e sua consequente escravização, as nações indígenas eram sempre vistas como um empecilho para a colonização do país, o Brasil precisava se tornar uma empresa colonial viável, o genocídio dos índios não era visto como um crime, era uma guerra justa e a escravização do nativo vista como um elemento natural no processo civilizatório do país. Eram terras e mão-de-obra para os empreendimentos que seriam implantados.

Outro aspecto importante focalizado pelo autor e, como está bem claro no primeiro parágrafo deste trabalho, foi o modo como se efetuou a exploração econômica do território de Sergipe e o papel do indígena nessa exploração, que diferentemente da história tradicionalmente contada, Sergipe no seu começo não apenas se limitou a criação de gado, havia uma agricultura que era principalmente destinada a população local, e havia sim o plantio de cana-de-açucar pouco depois da colonização do território pelos portugueses.

O papel do indígena muitas vezes ressaltado como preguiçoso e vítima de uma escravidão mais suave, em relação ao negro, foi totalmente desmentido por Ariosvaldo Figueiredo, ele escreve que o nativo já era usado como escravo, desde muito antes da colonização brasileira de fato, já na extração do pau-brasil o indígena era escravizado e em Sergipe antes da conquista definitiva do território por Cristovão de Barros em 1590. O índio não ficou livre da escravidão, muitas das guerras que se fizeram contra os índios aconteceram para o aprisionamento, braços que deveriam destinar-se ao trabalho compulsório.

O livro procura demonstrar que em Sergipe a situação do indígena não foi diferente do que aconteceu no resto do país, o sistemático apagamento desta cultura foi um fenômeno nacional do qual Sergipe não escapou, e o episódio dos enforcados foi só mais um dentre tantos de resistência a colonização, resistência punida com o enforcamento, fato que não pode ser apagado de maneira nenhuma da história do Estado, na busca de suas verdadeiras raízes.


Referências:









  • Figueirado, Ariosvaldo. Enforcados: O índio em Sergipe. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.


disponível em:



http://2008.jornaldacidade.net/2008/noticia.php?id=1669



Acessado em: vinte e oito de meio. 2011.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Beatriz Góis Dantas e os índios em Sergipe

Beatriz Góis Dantas foi professora do departamento de Antropologia da Universidade Federal de Sergipe, graduada em Geografia e História e com Mestrado em Antropologia Social pela Unicamp.

Os acontecimentos passados de Sergipe sempre foi o foco de suas pesquisas - O folclore, as formas populares, cultura indígena; ela publicou vários livros, e também participou de vários trabalhos em parceria, por exemplo, o livro - Trechos da História de Sergipe - com um capítulo escrito por ela, onde ela desenvolveu uma pesquisa sobre o que teria acontecido com os nativos sergipanos no século XIX; essa era uma lacuna na historiagrafia do estado.

Haviam no século XIX 5 aldeias indígenas que desapareceram das documentações oficiais e nada fora escrito sobre elas, sobre o que teria acontecido com elas. Beatriz no final dos anos 60 e começo dos anos 70 partiu para os arquivos no - Arquivo Histórico de Sergipe - com alguns dos seus abnegados alunos, pois nessa época ainda não existiam bolsas para pesquisas, o arquivo histórico era apenas um amontoado de documentos que a partir do trabalho dela e dos seus alunos, foram organizados e catalogados e revelaram uma importante documentação sobre os nativos em Sergipe.

Beatriz desejava que os índios fossem o próprio objeto de estudo e não um elemento secundário, selvagem que emperra o processo colonizador, ela descobriu nesses arquivos, que foram levados missionários para as aldeias e eles passaram a catequisar os nativos e a silenciar, aculturar os indígenas. Essa aculturação fez parte de um projeto maior de tomada da terra, pois essas terras estavam em boas condições para o plantio da cana-de-açucar. O governo baixou um decreto a partir dessa época dizendo que os índios eram misturados, que não haviam índios em Sergipe eles eram apenas caboclos (mistura de branco com índio).

Essa pesquisa teve um aspecto prático de devolver a identidade de vários grupos na década de 70 do século XX, e Sergipe passou a ter uma tradição em pesquisas sobre os índios e na catalogação de documentos revelendo esse aspecto tão importante para a nossa cultura.


O tecido social e a rede simbólica de Gaspar Lourenço

Esta postagem tem o objetivo de mostrar o tecido social e a rede simbólica do padres jesuíta Gaspar Lourenço, importante nome no projeto colonizador de Sergipe, chefe da missão empreendida´pela Companhia de Jesus no estado no ano de 1575.


Tecido Social: Companhia de Jesus (Ordem dos Jesuítas), José de Anchieta, Leonardo Dantas, Luíz de Grã, Inácio de Toloza, Convivências com os povos nativos.


Rede Simbólica: Religião Católica, fé cristã, doutrina da salvação das almas, mergulho na cultura indígena, batismo, pecado, mal/demônio.